Acabados de chegar aos seus destinos, os passageiros sairam todos das cápsulas, dirigiram-se às diferentes salas de desembarque onde deu-se início ao processo de verificação e autorização de entrada no... ...por parte das autoridades vigentes que entenderam existir discrepâncias legais, fruto de certas brincadeiras do passado, que punham em causa os seus afamados passeios...
Bom: os destinos serão todos os cantos passíveis de se viver neste canto maior que é o planeta Terra; os passageiros serão todos os seres passíveis de serem considerados humanos; as cápsulas serão todos os meios e vias passíveis de deslocalização; as salas de desembarque serão as ditas e aceitáveis fronteiras; verificar e autorizar serão no mínimo carimbar ou não carimbar; autoridades vigentes entenda-se por mão-e-caneta; discrepâncias legais serão leis transfronteiriças; brincadeiras do passado serão assinaturas protocolares e; afamados passeios conhecidos como novas políticas.
Migrações, alguém já ouviu falar? Do politicamente correcto, é emigrar e imigrar, isto é, sair da terra natal para outra estrangeira legalmente e é, refugiar-se em outras paragens que não a de origem (alguém sabe dizer-me se já é decreto-lei refugiar-se legalmente?). Bem, isso de arranjar termos politicamente correctos para quem foge (refugiar-se) é de uma obra... ...para um Nobel!!!
Que me recorde das minhas aprendizagens o ser humano nada mais é senão um Nómada por natureza. Foi assim que nós nos descobrimos e foi assim que descobrimos todos os cantos passíveis de se viver neste canto maior que é o planeta Terra, ainda hoje tentamos outros planetas.
Só que começámos a afincarmo-nos mais a uns cantos do que a outros, a ancorarmos em espelhos diferenças entre uns e outros, a catalogarmos fronteiras entre os de cá e os de lá, a pontificarmos em papel os termos de cada um e a redatarmos os prazos para não ficarmos à prazo, enfim, tanta obra que actualmente deixou-se de ser Nómada para se ser Migrante (isso se for o dito legal).
Só que começou-se a interpelar por se ter isso aqui e não ter aquilo ali, a intentar coisas-sem-fim daqui para acolá, a deslocalizar os desejados, a requerer para uma posse o que outrora era partilhado por infinidades, enfim, tanta trasladação que actualmente deixou-se de ser do Mundo para se ser do Segundo ou do Terceiro Mundo.
E a pergunta que fica é: Saber que raio de ser humanos somos nós que (...)? Bom, desconfio que a pergunta seja uma Refugiada, que foi barrada na sala de desembarque e que procura carimbar seu passe transfronteiriço para que se possa denomina-la legalmente como sendo uma Migrante.
E a resposta que obtemos é: Acho que se passa qualquer coisa ali ao lado, mas não sei bem o que é...
Atenção Srs. Passageiros!!! As coisas nunca se desenrolaram tão fast-too-much-fast como o que temos vindo a assistir, diria mesmo que ganharam asas, e o que contatamos é que acabámos por criar uma sociedade ao qual parecemos não estar preparados para nele vivermos.
Srs. Passageiros, informamos que (...). Estamos no ir de viagem não sabemos a quantas carradas de anos, de momento devemos estar de passagem sobre o territorio de ninguém, o clima está cheio de porquês com variações sem respostas pelo que se confirma a existência de imensas dúvidas sobre as nuvens...
Srs. Passageiros, atenção coisa nenhuma!!! Está mais do que na hora de acordarmos dessa triste viagem que nada mais é do que a dita Sociedade Universal - de facto a parte do Universo eu até considero, agora de Sal, ou não tem nenhum ou então está mais do que salgado.
Olhem-me para esta brincadeira: quando o Mundo inteiro andava atrás de outros Mundos, eram Descobridores; quando acatados Exploradores andaram a transladar escravos eram Colonizadores; quando afamados Burgueses expremiam as classes-menores eram Coroados; quando o Ocidente se industrializou à custa, diziam-se Desenvolvidos; quando o Médio-Oriente se manifestou, são logo Terroristas. Bom, se não é brincadeira então está politicamente incorrecto.
Quer dizer, o chamado Português insurge-se das suas paragens, ruma às Áfricas - é descobridor, translada pessoas-africanas-como-escravas até umas ilhasitas à costa - é colonizador, a sua pátria assim se enriquece à custa - é coroado. Já eu, que fiz o caminho oposto, pode-se dizer que em busca de uma vocação, tropeço-me em teias de conhecimento e da minha pátria estou longe - o que é que sou? Sou um Imigrante (vá lá que ainda estou dentro do prazo).
Meus Srs., acreditem, somos todos Passageiros, logo estamos por cá apenas de PASSAGEM. Sendo verdade, para quê tanta m****???
Politicamente correcto falando - foi um desabafo.