Foram 48 os temas finais de entre as 16 categorias que foram ao encontro dos CVMA na grande noite musical de 06 de maio deste 2017. Como tenho uma relação bastante amorosa com a música, achei pertinente intrometer-me na relação da Música com os Prémios Caboverdianos. Não sou de gala e nem vou cantar de galo, apenas galgar algumas coincidências, contradições e acertos de partilha. Vamos lá então ao meu chek-sound-love...

Sendo um daqueles Caboverdianos que, por causa da temporalidade moderna se submete aos temas da balada, como aprendi a siridjar com um citado mais a frente, mas conhecendo alguma da nossa tradição musical, não deixo de perguntar à generalidade dos conterrâneos, por onde anda a verdadeira morna da nossa terra, tipo uma CesaBanaMornaSim, porque não vale aparecer num Videoclip com os pés descalços, que me vou ficar de alma encantada, de corpo abraçado e coração raiado e cair na tentação de aceitar Mindel d'mãe Auta como a Melhor Morna do ano.

Não sei qual é a contextualização do tradicional que o júri dos CVMA entendeu (não sendo nem Morna nem Funaná), mas do que me lembro do meu pai a dançar (segundo ele, o melhor dançarino local), o ritmo que mais perto se enquadra nesta órbita seria claramente o Banderona cantada por Assol Garcia. Não estou a ver o melhor dançarino a siridjar a passo e compasso o tema eleito pelo júri como a Melhor Música Tradicional do ano - Cabo Verde Lá Fora - que curiosamente é cantada pela Melhor Intérprete Feminina - Ceuzany. Como o Tradicional nem é Morna nem é Funaná (são nomeados à parte), os três temas nomeados para esta categoria também não são nem uma Coladeira ou um Colá e nem um Batuque ou uma Mazurca, enfim, não sendo específicos, perdem-se na generalidade e, nesta corda bamba, a tradição vai-se perdendo. Se estas especificidades da nossa música não merecem destaque como categorias nos CVMA, então o objectivo citado pelos próprios no que respeita a valorização da música crioula, enquanto um sector essencial para a manutenção da identidade da nação Caboverdiana é, a meu ver, deturpado.

Como Melhor Produtor Musical, creio que a escolha do Elji Beatzkilla seria o mais acertado, tendo em conta a repercussão das músicas Break of Dawn, eleita Melhor Kizomba Videoclip e Apaixonado, também nomeado. Recordo que do álbumBelieve do autor Loony Johnson, apenas saiu vencedor Da kel bu toki como Melhor Afrobeat-Afrohouse que, a meu ver assemelha-se a outro beat-house com muito sucesso onde o Elji é também protagonista.

Segundo o regulamento dos CVMA, entende-se por Melhor Ritmo Internacional os ritmos universais como o rock, o jazz, o reggae, house  e todos os demais estilos internacionais não consagrados nas restantes categorias. Ora, se dos nomeados podemos extrair algum ritmo (muito pouco) comparativo aos definidos pelo regulamento, pergunto se a letra não faria sentido na diferenciação destes quanto a uma maior aproximação ao contexto Caboverdiano propriamente dito? O que é a música, senão um poema ritmado instrumentalmente ou cantado melodicamente? Sim, todos sabemos o que é um reggae, mas se alguém cantasse o Jah Calling (vencedor) em modo Jah Tchmá ritmado crioulamente é que era obra para um awards.

Ora a Melhor Colaboração foi ganha, em parte, pelo intérprete da Melhor Kizomba - Nelson Freitas - que, por sua vez, é cantado em colaboração com outro intérprete - Richie Campbell - que, pelas suas origens não serem compatíveis com as do regulamento dos CVMA, não pode ser nomeado e, sendo assim, no meio de tanta colaboração, foi mais um troféu a meias que caiu nas meias da Mayra Andrade, lá está, uma intérprete que quando surgiu, aquela voz, que diziam ser... enfim... já sabem... produção-música-tradição-crioula precisa-se, a voz está lá para troféus mais num todo e menos a meias. A continuar assim, isso dos melhores ou vai com meias ou vai descalço!

Como é que o intérprete da Melhor Kizomba, com o Melhor Álbum e com a Melhor Colaboração não ganha o troféu de Melhor Intérprete Masculino? Bom, se a atribuição do prémio de Melhor Videoclip é feita por profissionais da área, televisões e demais parceiros audiovisuais dos CVMA, pergunto quem serão então os reais jurados dos mesmos CVMA (?), e sugiro a inclusão de profissionais da área do Faz-de-Conta para ajudar-los nestas escolhas dos melhores em tão complexas obras musicais. Sim, temos que ser uns para os outros e nada de trofearmos tudo para o mesmo saco, concordam!?

Assim, como se eu quisesse saber, quereria saber quais os critérios que levaram a escolha da Artista Revelação - Assol Garcia -

comparativamente com a escolha da Melhor Intérprete Feminina - Ceuzany? Como se pode ser revelação não sendo uma boa ou melhor intérprete? Digo eu: revela-se, depois interpreta-se, será? Considerando a fórmula de cálculo parcial entre a classificação do júri e a votação do público para atribuir este prémio podemos facilmente deduzir sob a imparcialidade da coisa! A deduzir sob a coisa, diria eu que a revelação deste ano será a melhor intérprete feminina do próximo CVMA, vai uma aposta? Vá lá que não em!

Apesar de ser uma escolha exclusiva do público, eu não consigo perceber a designação do Popular que conduziu a maioria dos votantea escolherem o tema Lá ki nôs é Bom como sendo o mais Popular do Ano. Se calhar, os tais votantes pensaram mesmo que eram todos bons e em todo o lado e quiseram mostrar aos jurados dos CVMA que estes não são bons em nada e em lado nenhum, a julgar pela coerência de trofear A com B, C com D, E com F e, uma vez ou outra, A com C ou D com A  e assim sucessivamente... Não deixa de ser curioso o que nos diz o conteúdo da mais popular dos nossos temas musicais em 2016: Dinheiro? Não temos. Ouro? Também não. Petróleo? Não temos. Diamantes? Também não. Mas... mas temos os Prémios da Muzika Verdiana, sempre! Sempre fortes em coincidências, contradições e acertos de partilha, prova de que , é que são Bons...

 

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