O timing para a manifestação de 5 de Julho em São Vicente já está em contagem regressiva. Os Mindelenses parecem estar mobilizados e espera-se uma multidão nas ruas da cidade. A iniciativa parece que contaminou associações socioculturais, grupos carnavalescos e personalidades diversas. E já há licença para protestar.
Tudo indica para o lançamento da primeira pedra da construção do novo campus da UNICV - Universidade Pública de Cabo Verde - como sendo a estocada final que levou os Sãovicentinos a projectarem a referida manifestação como forma de protesto contra o que dizem ser a excessiva centralização do Governo no que respeita às suas políticas e acções executivas no panorama nacional.
Ora, como tudo o que é política nunca deixa de o ser na sua plenitude, a discussão sobre os meandros desta marcha que decorrerá durante o dia da independência de cabo Verde, parece ter de tudo um pouco e a sua dependência no que toca aos seus organizadores e aos porquês são tanto um quanto controversas. Na lógica aparente de que os media pouco informam ou debilmente o fazem, as redes sociais são a maior arma discursiva (se é que de discussão o podemos tratar) onde nos mergulhamos para perceber um pouco desta acção de protesto nas ruas do Mindelo e que, segundo um dos membros organizadores, também as ilhas do Fogo (Chã das Caldeiras), Sal e Santo Antão já começam a dar sinais de querer sair à rua, rematando o próprio que a manifestação é totalmente cívica e sem ligação a nenhum partido. Quase tudo é publicado nas redes sociais e dali subtraem-se quem disse o quê sobre o quê...
Mais uma vez está patente nesta dita discussão pública a troca de acusações no que toca às responsabilidades quanto à troca de São Vicente para Santiago daquele campus que estava para o Mindelo mas que partiu para a Praia. Dizem que foi sempre assim e é por isso que se debate o centralismo. O MPD diz que quem está por trás desta manifestação são ex-membros e simpatizantes do PAICV, que estiveram 15 anos no comando deste mesmo poder central e que agora contestam depois da pesada derrota nas legislativas de 2016 e que foram eles quem decidiram o aval do novo campus da UNICV para a capital. O PAICV já veio demarcar-se dessa organização mas marcou passo aludindo a uma presença maciça do povo de São Vicente na manifestação de 5 de Julho, razão pela qual cancelou a habitual (se é considerado habitual 4 anos de marchas em 42 anos de independência e 36 anos de partido, então que nasça mais um hábito e que seja a manif...) marcha de celebração do 42º aniversário da Independência de Cabo Verde, que se realizaria no mesmo dia, nas mesmas horas e no mesmo local que a manifestação e, por isso, resolveram devolver a data ao povo.
E assim vai sair às ruas um protesto manifesto de factos e teorias de resolução. Factos pura e simplesmente derivado da excessiva concentração de poderes, investimentos, infraestruturas e meios de desenvolvimento numa capital de dez vazios e meio-cheios (assim tanto Mindelo?) - o tal centralismo. Teorias de resolução relativas ao condado de defensores que primem pela Regionalização do arquipélago como factor de desenvolvimento das ilhas una e colectivamente e como podem ver aqui e aqui, São Vicente já reclama por essa arma que, a meu ver, é uma tentativa de combater a capital no que aos factos acima indicados diz respeito. Se por aí enredar Mindelo na sua conquista, pergunto qual ou quais os que se seguirão (das restantes ilhas) na luta contra esse possível duo-centralismo?
Para já vamos aguardar pelo que se seguirá da manifestação de amanhã - dia da independência. Se se discute a descentralização e sucessivamente a regionalização é porque a discriminação política e administrativa está ali a olhos vistos, ainda que vistos à negro entre as ilhas verdianas. Ilhas verdianas, as outras mais, que também se lhes aguarda as suas manifestas respostas...