É curioso como a população de Chã das Caldeiras, ilha do Fogo, utilizou o dia da independência do país para mostrar-nos como são dependentes da apanha da uva naquela ilha e, por isso, utilizaram o feriado nacional para aquela actividade específica (indispensável à época) e não para se celebrarem livres como dita a data... Com o ganha-pão a ganhar, quem se atreve a despender um dia que seja a manifestar-se só porque outros se manifestam contra os que controlam a coisa???
É espantoso assistir o Presidente da República da Nação, enquanto declara na Assembleia Nacional o 5 de Julho como sendo um dia de festa, esteja a acontecer uma massiva manifestação na cidade principal, com milhares de pessoas a reclamarem pela descentralização excessiva do poder Caboverdiano... Aqui, é alarmante (não sendo novidade) ver como os políticos se aproveitam do caso para fazerem descaso e projectarem casualidades... Tenho, por assim dizer, curiosidade em ver São Vicente a derrubar as elites e os políticos daquela poltrona e a apartidarizar (verdadeiramente dizendo) o poder institucional daquela ilha...
É intrigante ver que no concelho do Paul se faça uma demonstração de alegria da população com demandadas de cavalos e burros (talvez éguas e bestas) no declarado dia da liberdade, enquanto no Porto Novo se faça uma demonstração de agricultura e artesanato das suas gentes em modo de feira... A liberdade tem disto, livre circulação de pessoas e meios: ao tiro de partida na cidade do Sonjom, os animais correram tanto que foram parar no Paul e das terras aráveis do vale, os agricultores excederam-se tanto a produzir que foram parar no Porto Novo...
É desconcertante como o poder de mobilização de São Nicolau não chegue visivelmente às ruas como forma de protesto, nem que fosse, pelo menos, para reclamarem que o Colóquio dos 150 anos do mais antigo Seminário-Liceu do país era para ali se realizar e não na cidade capital... Talvez seja por isso que o Campus da INICV foi toda para a capital! Para quê construí-lo em São Vicente se o seu centenário será celebrado, não ali, mas lá mais a sul???
É expectante que do Maio as festividades da Câmara Municipal para assinalar mais um aniversário da independência complemente várias actividades a começar por uma alvorada pelas várias artérias de Porto Inglês, desportos vários, exposições, entrega de viaturas aos bombeiros e ao Posto de Saúde, conferências, inaugurações, entre outros programas mais... Com um dia assim tão preenchido, quase que roubavam o protagonismo da celebração manifestosa da congénere Sãovicentina...
Não é nada que não saibamos, mas cada recanto do arquipélago lá entoa o seu canto em nome da nossa Independência. Ainda que o sejamos assim, geograficamente ilhados, não há registo de nada homogéneo que se faça nas ilhas como marco da data nacional. Não há uma Assembleia Municipal de um outro concelho qualquer que suporte a deslocação dos tantos afamados discursos dos muitos líderes nacionais na Assembleia Nacional? Se não podem descentralizar o poder, pelo menos descentralizavam a concentração do 5 de Julho uma ou outra vez, lá para os interiores... É assim tão difícil compreender-mo-nos todos numa das nove falagens? Não da forma como Mindelo e Praia se percebem mas não se entendem!!! Não sei porquê teimamos em celebrar uma data Nacional de Independência de um país incomum cada vez mais Dependente? Creio não haver dúvidas de que os valores práticos pelo qual se lutou pela Independência de Cabo Verde, morreram-se-lhes com os que já partiram e estão morrendo com os que ainda lhes seguram na corda. Se se pode ser Independente? Claro que sim, mas não a depender assim...