Era uma vez uma companhia que bailava nos céus verdianos com carro-asas carregados de gentes viajantes que não embarcavam mas embalavam a pressas... Era uma outra vez muito depois, a companhia mesma, deixou-se fugir além fronteiras porque, com a independência, o que mais se quis foi não depender e, por isso, as gentes, talvez gentes diferentes, rumaram-se, muitos, nesses bailados mais longos para os céus de outros mundos através das asas um bocadinho maiores que a AIRLINES VERDIANA fazia-se bailar... Era uma vez mais muito a frente, a companhia mesma, mais quis bailar para mais e mais céus, bailando mais e mais gentes para mais e mais mundos até sem mundo ficar... Era uma outra, não última longa vez, a mesma nossa bandeira, como podem avistar, tudo fez, tudo alargou, tudo abrangeu, todos os céus procurou, tantos jobs proporcionou, tanto atrasou-se que muitos se demarcaram, tanto cobrava que se quebrou dos céus, tanto voou que se descolou do que é gerir e de como é administrar, como nada previa tudo remediava, enfim, ao descolar assim, já sabem como é...
Como é 100% estatal, como descolava de mal a pior, como está desmoronado, como está falido, é como é: Decretar falência institucional? Nem pensar! Privatizar a nossa bandeira? Mais ou menos! Reestruturar o negócio? Digamos que sim!
Meus caros, qual o caboverdiano sã que não sabe uma vírgula do desastre que é a TACV? Ora, no comunicado governal à nação, fora as partes de culpabilização governativa, da inoperância técnica, da catrefada de dívidas acumuladas, das interferências estatais na gestão, das decisões administrativas equivocadas, da companhia que voa mas que não tem aviões, fora estas partes virgens de conhecimento público, o que veio dizer de mais virgem ainda a conferência governal? Bom, pelo que percebi do que leu o ministro que escreveram os ministros: vão privatizar e vão nacionalizar para reprivatizar; vão descontinuar os voos da TACV e vão abranger os da BINTER para todo o doméstico aeroportuário; vão vender lá fora em nome da TACV e transportar para dentro através da BINTER; vão reestruturar o Segmento Internacional e a Manutenção e Engenharia para os relançar como oportunidades de negócio e vão lançar uma Linha de Créditos para os despedidos empreenderem os seus negócios. E depois pergunta-se:
Como é que a TACV é uma referência líder da aviação no continente africano naquele estado calamitoso de anos e anos? Como assim o governo garantiu a capacidade operacional da TACV, cuja manutenção e funcionamento custa carradas de dinheiro, é agir de forma responsável? Como assim o governo impediu o isolamento interno dos cidadãos caboverdianos, se a BINTER vai assumir as rotas domésticas? Como assim a actuação do governo assegurou a conectividade de Cabo Verde ao mundo através de uma companhia com voos internacionais que mais demoram do que voam? Como assim o governo reduziu os gastos, evitou a falência, recuperou a credibilidade, ampliou a capacidade, potenciou a posição geo-estratégica se ainda a situação mais catastrófica parece? E depois constata-se:
Ao proclamarem apenas e só que "manter a TACV é penalizar o POVO caboverdiano" ou que "manter a TACV é deixar de investir no que é realmente essencial para o bem-estar do POVO caboverdiano", não sei porquê tanta lenga-lenga ao invés de acabarem de vez com a companhia que chamam de bandeira. Se a TACV despede-se das inter-ilhas, o melhor é esquecer essa da bandeira de Cabo Verde lá fora, uma vez que, entre as dez estrelas que nela estão, a companhia não mais bailará. Sugiro que pintemos então umas novas estrelas nas aeronaves daquela que, por mim, podem passar a chamar de TRANSPORTADORA AÉREA BINTER CABO VERDE AIRLINES se dela vão requerer 49% do seu Capital Social. Que dizer mais? Enfim...
É impressionante a forma como se transformam os "problemas herdados em oportunidades". Essa do GOVERNO mais BINTER menos TACV transcende toda e qualquer enciclo-comédia que eu alguma vez imaginei...