A conversa começou assim:
Eu | Eu vi na net que Paul está em vias de perder o Santo António para ganhar um POP António das Pombas, é mesmo? Agora é festival de hip-hop enquadrado numa festa tradicional, numa romaria, é mesmo? É a inovação! Vou perder um tamboreiro como o meu pai em troca de umas sílabas ritmadas? Que cena!!!
O festival de hip-hop? Sério! Pensei que seria no verão? | Ele
Eu | Não, é a 11 de Junho. Acho que poderia escrever sobre isso pah...
Passados uns 2-3 dias, foram acontecendo coisas tal como fui pensando em outras coisas e estabelecendo conexões e lá voltamos à conversa:
Eu | Olha pelos vistos eu não vou escrever aquela crónica sobre o festival de hih-hop enquadrado nas festas do Santo António.
Então porquê, já não tínhamos visto como seria isso? | Ele
Eu | Opah! Olha no contexto do festival até tinha matéria para umas duas piadas, mas depois na contextualização mais aprofundada perder-me-ia nos argumentos sobre outras matérias. Olha, a Noite Caboverdiana não era realizada à 12 de Junho?
Sim, normalmente era a 12. Mas ultimamente têm vindo a fazê-lo cada vez mais cedo, pois jogam com os fins-de-semana e assim. | Ele
Eu | Pois, este ano é o Tito Paris que ficou com aquela noite, parece que trás grandes artistas. E o PEC ficou com o 11, o do tal festival de hip-hop, e o 13 tem lá outros artistas também. E a Noite Caboverdiana foi no Sábado. Depois tem outras coisas que estão a fazer. Ah e no dia 14 também tem baile em Cabo de Ribeira.
Olha eu acho que estão a saturar o mercado, é muito espectáculo para tão poucas pessoas com tão pouco dinheiro. | Ele
Eu | Pois. E há a questão das parcerias, que antes até levaram ao cancelamento de eventos, que levou a câmara a reconhecer que errou em certa medida com certos bloqueios, mas que agora gaba de vantajosos em termos gerais porque fazem reduzir as suas despesas com relação aos montantes gastos com os espectáculos. Antes era uma mais outra noite, agora são carradas delas preenchidas com espectáculos maioritariamente para um público jovem, que sabemos no concelho, apresenta elevadas taxas de desemprego a tempo inteiro. Enfim, como já ouço dizerem, as Festas do Santo António são agora um produto turístico local e que atrai muita gente de todos os lugares...
Pois, lá está, se calhar o Santo António já nem é para o povo da casa... | Ele
Eu | Mas acho que não vou escrever. Acho que fica fora do meu contexto. Se calhar o pessoal não pensam assim como eu. Mesmo que critique o festival naquela data, eles podem assumi-lo como uma forma de variar as actividades e não pelo excesso ou contradição para com o Santo António. E depois, seria uma análise teórica minha que, com ou sem fundamentação, eu não estou presente, não estou lá para viver ou não e saber se tais festas são ou não agradáveis ou aceitáveis, percebes!?
Sim, eu também não sei se as festas do Santo António estão ou não a serem desvirtuadas, se há ou não espaço para a tradição e novas tendências dessa forma, se é ou não normal... | Ele
Eu | Pois, este é outro problema. Mesmo que nós tenhamos essa noção da perda de identidade sobre as Festas do Santo António, eu, por exemplo, não tenho aquela sensação que a presença nos belisca e não o tenho vivido há muito tempo. Eu até posso fazer essa análise mas depois a mesma vai perder nesse sentido da experimentação real.
Pelo lado do saudosismo? | Ele
Eu | Pelo tempo que estou fora, não diria isso afincadamente, mas que perdi muito em termos do sentimento real, perdi sim.
Naquele intervalo de tempo, tempo que te passa entre os olhos e dás conta do seguinte:
Eu | Olha uma coisa! Se eu transcrevesse essa nossa conversa como uma crítica tipo: DIÁLOGO DE FORA ou coisa parecida?
Sim, acho que dava! | Ele
Eu | Yah, acho que dava um texto interessante! Já que tenho dúvidas, que não tenho tido aquela sensação da presença e que não o tenho vivido há muito tempo, o objectivo principal seria transmitir essa minha dúvida na mensagem, na medida em que, procuro respostas ou certezas de que esta minha percepção é que está desvirtuada.
Transmitir para quem está no terreno ou expor de uma forma geral? | Ele
Eu | Até que vai dar aos dois. São interpelações de um indivíduo que se querem transmitidas, se delas concordarem é porque são questões da generalidade da sociedade, caso se suceda o contrário é porque sou eu quem estou perdidamente enganado e ao que parece totalmente desvirtuado.
VÓS | Espero, em desmodo festivo, que tirais as vossas próprias conclusões sobre as FESTIVIDADES DO SANTO ANTÓNIO DAS POMBAS, que é de todos os anos e não do ano inteiro (refiro-me às festas e não ao santo). Como já tivemos oportunidade de ver, nas longas entrevistas sobre estas festas com: tantos porquês?, como são possíveis?, para quês?, nós conseguimos!, nós podemos!, isso é para mostrar que!, etc, tal como disse alguém, isso é um diálogo expresso do sentimento de dois cidadãos que não estão a fazer política, que é caso dos que temem que alguma coisa se torne pública, e acham igualmente que esta ou outras em outras circunstâncias podia ser perfeitamente a conversa de outros dois ou outros mais cidadãos que acham que alguma coisa não é bem assim. Seremos os únicos? Com certeza que VÓS sabereis muito bem e terão respostas de que nós não dispomos, SIM? | VÓS