Esta semana é assim: Vamos à BOLA? Se sim, peço-vos solenemente, que também vão ao BOLSO, retirem de lá vossas carteiras e, com papel ou cartão, solicitem os vossos bilhetes e um para mim se possível, dava-me jeito, mesmo!!!
Pois é, à bola que vos convido, não é aquele esférico de entre as quatro linhas, divididos equiparadamente com folgo, mestria e faz-de-conta... à bola que vos convido, não é aquele espectáculo que move corações, conduz multidões, reclama lágrimas de alegria e comunga lágrimas de tristeza, transcende em discussões sobre os melhores, os bons, os assim-assim ou sobre os famosos pernetas... à bola que vos convido, não é aquele palco que reserva o direito de admissão aos seus trajados de bilhetes e camisolas, que tem bancadas separadas para os seus fãs inteiramente clakeados, para os seus digníssimos managers e para os seus excelentíssimos vi-ai-pis... à bola que vos convido, infelizmente, não é coisa que me tem agradado... e, à essa bola, espero que não vos agrade, caso contrário, obrigado, mas devolvam-me o convite... Sobre a emoção desmesurada que ela provoca, aquela emoção que, por vezes, a mim me maltrata e como me maltrata, sobre essa parte da bola que fique claro, só dá poemas romanticados, percepção crítica não lhe serve...
Ora, este meu ir à bola deve-se, tão somente, em perguntar à envolvência, onde raio foi parar a bola de futebol verdadeiramente jogada??? Onde raio foi parar o futebol que é aquele desporto em que 22 jogadores, divididos em dois campos, se esforçam por introduzir uma bola na baliza do campo adversário, sem intervenção das mãos, durante duas vezes 45 minutos? Decerto que ainda há um cantinho com bola lá dentro, decerto que a bola ainda marca compassos e, decerto que há bolso que ainda não lhe queixa...
Confesso que não sou daqueles fãs confessos, conhecedor de tamanhas tácticas que são números combinados até 10 onde 11º é e só o 11º, de 4-4-2 a 4-3-3, de 3-5-2 a 4-2-3-1, enfim, dizem que uns fazem de autocarros e outros de TGV's, que conhece as posições à regra dos 11 elementos de pelo menos 11 equipas, que sabe à risca todos os passos e história do clube, etc. etc.. Pelo que tenho visto, a bola já há muito que deixou as quatro linhas, parece que agora ela é jogada do lado de fora e tudo o que lá dentro acontece parece magia e ilusão, coisas que só os especialistas malabaristas comerciais sabem como fazer. Hoje não discutimos a troca de bola entre os jogadores mas sim a troca de jogadores por notas entre agentes, não a troca em si mas os meandros que tal jogo cambiou. Hoje não discutimos títulos, apenas titulámos discursos deturpados. Hoje já não vale discutir o fora-de-jogo porque o árbitro já ajuizou fora-de-campo. Hoje vemos mais faltas no campo do que adeptos nas bancadas. Hoje os jogadores de formação são puramente para o caixa-facturação e não para o estádio-exibição. Hoje há mais comentadores por jogo do que jogadores num jogo. Hoje idolatramos jogadores e confrontamos atletas. Hoje agenciámos jogadores e por isso desfilam muito e não jogam nada. Hoje tudo o que é transferência é offshore - X para aqui, Y a meio e Z para acolá - e o imposto fica deposto. Hoje há os jogadores e há os jogactores. Hoje fazem-se negócios com bola em jogadas sem bola...
Hoje, se o futebol é um reino, a bola é a sua rainha e o seu rei é o bolso de todos os que são convidados. Eu, como é sabido, o bolso nada quis comigo. Se quisesse, o mais certo, era alguém ser mais maltratado do que já é...