É estranho para mim, constatar que, dos primórdios nascentes aos tempos recentes, vós mulheres, passastes vossas vidas a dar vida às nossas vidas para depois terdes que lutar contra nossas vidas, porque nós, homens em vida, passá-mo-la toda a limitar e a delimitar as vossas vidas o mais que pudemos numa lista de coisas e/ou tarefas que vós, mulheres em vida, poderias ou podeis ou não fazer, desta ou daquela forma, na medida em que, criámos linhas e condições, todas demarcadas com espinhas e decretos, simplesmente para nos separar de vós.

Minhas caras conterrâneas, porquê fostes vós criar o 27 de Março e não aproveitastes o 8 de Março para dar azo ao vosso dia? Achais o 8 de Março pouco para nos lembrar que vós sois o que são? Caboverdiana Singular ou Africana Diferente? Mulata-verdiana ou Crioula Universal? Badias à Sotavento ou Sampadjudas à Barlavento? Mas o que fez o 8-de-Março de mal para querem um 27-de-Março só vosso? Não é que não respeite a singularidade do vosso dois-sete, só quero saber das suas divergências com o oito...

Confesso que sou contra esta datação serrada de tudo e mais alguma coisa, mesmo compreendendo e concordando com a datação natural de certos acontecimentos como são o nascimento e a morte ou outras de semelhantes referências. Sou contra pela manifesta existência, a priori, duma massiva discriminação e desrespeito do ser humano ao próprio ser humano e ao seu ambiente natural. Reparem, fora as outras coisas de que em Março também são datadas, 21 e 22 são dias internacionais: do Teatro; da Terra; da Síndrome de Down; contra a Discriminação Racial; das Florestas e da Árvore; e da Água. Isto é: somos uma comédia de ser humanos que habitam um espaço terrestre, todos meio doentes meio sãs, negros que são pretos e brancos que são brancos que precisam da mata para consumir-nos o CO2 e libertar-nos o O2 e, ainda mais, daquele precioso líquido assassino, mas que só nos mata a sede. Ora se precisamos de datas para sabermos que somos diferentes mas humanos, que a floresta é um bem indispensável mas esgotável ou que a água salva-nos matando-nos a sede todos os dias, então estamos bem tr-amados. Ora se precisamos duma data para saber-vos mulheres todos os dias, então somos, lamentavelmente, não-somos.

É, ainda mais estranho para mim, constatar outra vez mais que, vós mulheres, que passastes tanto de vosso tempo lá em casa e arredores a fazer-tratar-cuidar-cozinhar-lavar-passar-limpar-educar-ensinar-aconselhar-etc de manhã à noite e de madrugada muitas vezes, fossem e sejam catalogadas apenas como donas-de-casa, enquanto, nós, vosso mais que oposto ser sexual, que passámos tanto de nosso tempo arredores e lá por casa a trabalhar, fôssemos e sejamos catalogados como trabalhadores. Sim, é estranho que, a mercê de tantos verbos, vós nunca serdes nenhum deles, enquanto nós, descaradamente, somo-los e ainda com um certo aperfeiçoamento... Como é que, vós passardes vossos tempos a cozinhar, alimentando-nos e deliciando-nos com vossos sabores, sois apenas uma cozinheira mais, enquanto, vosso mais que oposto ser sexual, que teve que ir à escola aprender uns truques malabaristas em modo tempero clandestino de cozinha figurada é outra coisa que não cozinheiro, é mais do que isso, é Chef?

Eu, muito sinceramente, não te quero Chefa. Quererás tu ser? Não creio. Mas isso é mais um oposto ser sexual a divagar! Tu lá sabes. Sei que sabes. E sei que, se calhar, esse é o medo de todos os teus opostos seres sexuais - que muito sabeis vós...

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