Não há dúvidas de que Cabo Verde é um daqueles países mais não-país alguma vez visto por esse mundo fora. O estimado arquipélago, que só o é em geografia geográfica, nunca passou de um aglomerado de pontos de terra vulcânica aos olhos de todos os outros colossos aglomerados que mandam e desmandam nesta afamada composição chamada de mundo. Diria eu que Cabo Verde é e só um por-acaso...
Este meu propósito vem tão-somente de umas últimas pequenas notícias pouco noticiadas, mas grandemente significadas, isso se olharmos a fundo na sua real contextualização. Ora, na segunda-feira 20-02-2017, foi dia das chamadas cimeiras, calhou a IV Cimeira Cabo Verde - Portugal, cimeira essa que é um encontro bi-lateral entre os referidos, que propicia as chamadas reuniões entre os homólogos, que enaltece as relações entre ambas as partes, que dá lugar a formulação de pedidos e a troca de elogios e termina com as inaugurações (caso as houver) e as famosas assinaturas protocolares. E sim, na passada segunda-feira houve disso tudo na capital cidade da Praia.
Sobre a Escola Portuguesa inaugurada na capital, ainda que o Sr. António Costa duvidasse se a sua inauguração seria ou não possível à data, fiquei com dúvidas quanto a forma do ensino que ali será adoptada, uma vez que a própria Língua Portuguesa está em vias de segundo plano no panorama nacional. Talvez ali os professores sejam melhores até no ensino do Crioulo, digo eu! Mais, a ideia é de expansão da Escola Portuguesa. Pena que seja para o terreno ao lado e não para os outros cantos do dito arquipélago. Se fôssemos um tal país, quem sabe?
Sobre o PEC - Programa Estratégico de Cooperação - dizer que são mais 120 milhões de euros para Cabo Verde, destinado a carradas de coisas a desenvolver e ao desenvolvimento de carradas de coisas. Tudo indica que até 2021, fruto dessa cooperação estratégica, Cabo Verde venha a registar bons índices de desenvolvimento em muitas áreas. Pelo que vejo, a estratégia é essa. Pena que ainda não perceba nada de estratégia. Caso percebesse, até poderia explicar-vos melhor os fundamentos desse PEC.
Sobre a troca de elogios e formulação de pedidos é que ambos estiveram bem. Portugal na sua forma solidária e Cabo Verde na sua forma de sempre - e se vocês nos perdoarem aquela dívidazinha!!! Ora, quando digo que Cabo Verde é um não-país, isso deve-se a essa nossa faceta de em quase toda a nossa existência enquanto nação (se é não-país, talvez seja melhor dizer não-nação também) de andarmos nisto de pedir empréstimos e ajudas ao estrangeiro e sucessivamente a pedir que nos perdoem os pagamentos, na forma de dívidas acumuladas, ou porque somos pobres ou porque somos muito pobres ou porque somos paupérrimos... Ora, isso é tremendamente lamentável e triste e lamentável e triste e outra e outras vezes... Desta vez calhou a Portugal, mais uma vez, pedir-lhes que nos perdoe o empréstimo de 200 milhões de euros destinado ao programa "Casa para Todos", dívida essa que só começa a vencer daqui a 4 anos. Não é nem será o primeiro pedido. Entra governo sai governação que não saimos disto. Se somos um não-país, uma não-nação que nem sequer migalha produz em condições, como haveríamos nós de ter liquidez para pagar seja lá o que quer que seja? Vamos nisto de Europeus emprestam um tal, Asiáticos cooperam com um quanto e Americanos patrocinam o resto e tudo, ou pelo menos quase tudo, vai por Cabo Verde aterrando e depois "e tudo o vento levou"...
Num comentário retirado da caixa do jnegócios (um dos mais simpáticos) dizia-se: "Não quiseram a independência? Agora aguentem-se!". Ora, se Cabo Verde já é um país (o tal não-país) independente, depreendo que sim, que aguenta. Isto é, aguenta tudo o que são ajudas ou tudo o que são empréstimos, nada mais. Depois é só pedir o tal perdão que já fica tudo resolvido. Aquele verbo que é PRODUZIR, não tem qualquer conjugação na 1°' pessoa do plural para os lados de Cabo Verde...
Enquanto andarem deputados a partilharem nas redes sociais pedidos formais de perdão de dívidas, enquanto andarem governos a desculparem-se com obras mal feitas ou por fazer da governação anterior, enquanto andarmos nestas fantochadas de Programas Estratégicos de Cooperação de que só se recebe, nada se dá e tudo se esconde, enquanto assim é, nós, Cabo Verde, nada mais seremos do que um estimado não-país ou uma estimada não-nação...
É triste e é lamentável... Mas peço PERDÃO... Em nome do não-país... Em nome da não-nação...